Elijah
O número de
habitantes da Cidade Universitária só aumentava mês após mês. Elijah, como um
dos mais antigos ali, se sentia na obrigação de se aproximar dos
recém-chegados, oferecendo apoio e uma boa conversa. Acabou se tornando
conselheiro de muitos e amigo da maioria. Dedicou um tempo à tarde para ver
Nicky e o filho dela no hospital, que se recuperava bem, graças à dedicação do
Dr. Hoyer.
Quando saiu
de lá, o céu já estava escurecendo e começava a esfriar. Exatamente o tipo de
noite em que Faith gostaria de sair pra caminhar um pouco. Já tinha passado o
dia inteiro sem ir vê-la, ela estaria angustiada e preocupada. Elijah passou em
um dos mercados, comprou uma caixa de chocolates de diversos sabores e seguiu
caminho até ela.
Teria que ir
até a mansão principal, onde Lisa morava. Lá também ficavam hóspedes especiais,
os recém-transformados e Faith. Lisa não ficaria longe dela, era sua primeira
filha de proteção e exercia o cargo de conselheira principal, até o dia em que
ficou frente a frente com Natasha.
A porta dela
estava aberta, mas ele bateu mesmo assim e só entrou depois de ouvir a sua voz,
doce e suave como de costume.
- Elijah? É
você? Entre.
Ao entrar
viu o sorriso aparecer no rosto dela, junto com a empolgação de tê-lo por
perto. Aquela cena sempre mudava o pior dos dias em um momento que desejava que
se estendesse por séculos.
- Sou eu
sim. Como você está? – ele entra fechando a porta.
- Um pouco
nervosa. Você demorou demais hoje. Aconteceu alguma coisa? – ela afasta alguns
papéis da cama dando espaço pra que ele sente ao seu lado. Os cabelos longos e
loiros estavam soltos e levemente despenteados e já vestia suas roupas de
dormir. Seu rosto, jovem e belo, parecia cansado. As mãos tremiam um pouco e
não parava de olhar para a janela.
- Tive que
conversar com muitas pessoas hoje, minha princesa. – Elijah volta a ficar de
pé, fecha as cortinas e se senta na cama novamente.
- Trouxe
alguma coisa pra mim hoje?
- Trouxe
sim. – Ele ajeita o cabelo dela – Hoje eu conseguir trazer pedrinhas dos
riachos.
- E isso tem
gosto de quê? – ela franze o cenho.
- Tem gosto
de sol e chuva. De ar livre e de canto de pássaros. – Elijah se encosta na
cabeceira da cama e passa o braço ao redor do corpo dela, a abraçando.
- Você já me
trouxe algo com o gosto parecido, mas isso parece melhor. Onde está?
- Aqui... –
ele a entrega a caixinha de chocolates abrindo a embalagem, colocando um em sua
boca.
- Esse tem
gosto de chuva. Sinto falta da chuva. – ela apoia a cabeça no peito dele,
mordendo pedaços pequenos de chocolate.
- Você pode
senti-la de novo, é só vir comigo na próxima vez que chover.
- Não! Você
sabe que eu não posso. Eu não posso sair! Se eu sair ela vai ver e vai vir
atrás de mim. Ela pode me machucar, também machucaria a Lisa, o Troy e você! Eu
não quero isso. Por favor, me deixe ficar aqui, por favor! – Faith se
descontrola, passando a tremer mais.
- Hey, se
acalma. – Ele a abraça mais forte, beijando-a na testa. – Ela está bem longe
daqui, estamos em um lugar seguro. Não precisa ter medo. Muitas pessoas estão
andando lá fora e estão todas bem.
- Eu tenho
medo. Deixa eu ficar aqui, eu não quero sair. – Ela começa a chorar assustada.
- Tudo bem,
você não precisa sair. Não chora, meu amor. Eu vou ficar aqui com você e não
vou te forçar a ir lá.
Aos poucos
ela volta ao normal, comendo mais doces. Os olhos azuis pesavam de sono. Após
tomar um pouco de água e escovar os dentes, continuaram conversando um sobre o
dia do outro até que ela se rendeu ao cansaço, dormindo abraçada a ele.
Seu sono era
sempre agitado e ele fazia questão de permanecer por perto e se sentia
responsável por ela. Os que moravam a menos tempo na Cidade Universitária nem
imaginavam que os dois eram casados. Primeiramente porque ela nunca era vista.
Os que sabiam de sua existência, só sabiam que ela vivia em um dos quartos da
mansão de Lisa e de lá não saía. Outro motivo eram os comentários sobre sua
aparência muito mais jovem do que ele. Muitos boatos eram criados sobre o
assunto.
A verdade é
que eram mesmo casados fazia muito tempo. Faith aparentava ter talvez até menos
do que vinte anos, enquanto ele parecia ter o dobro disso. Mas isso era apenas
a aparência. Ela tinha nascido ainda antes dele.
Elijah e
Faith ainda usavam suas alianças de casamento, embora fizesse tempo que não
vivessem como casados. Dormiam abraçados, nada mais do que isso. Perto dele,
ela conseguia se sentir segura. Ainda o amava, mas não o enxergava mais como
seu marido. Na sua mente, aquilo não existia mais.
No tempo que
passavam juntos, falavam sobre a lua, o sol, chuva, pássaros, doces e cores.
Não trocavam beijos, pelo menos não nos lábios. Se ele a beijasse ela se
sentiria confusa. Se
sentisse a
mão dele a tocando, se afastaria como uma criança amedrontada. Por esses
motivos, Elijah se limitava a vê-la dormir, mexendo-se inquietamente entre um
pesadelo e outro.
Não a
deixaria por nada, não trocaria a sensação de tê-la por perto por coisa alguma
no universo inteiro. Apenas desejava ter sua mulher de volta.